quarta-feira, 24 de abril de 2013

Quem conhece as trincheiras da luta constante tem apreço à menor das conquistas.

Certo dia, ao assistir (e comentar) a um vídeo na internet, postado por uma colega em sua página do "feice buque", fui taxado de comunista-radical, socialista-e-Che Guevara. Disse a tal colega que eu seria mais um “antiamericano” nesse mundo doido.

Que viagem, dessa dona! pensei.

O vídeo trazia uma mensagem impregnada de paz bucólica, amistosa e absoluta. Passava por lugares reais, mas com imagens lúdicas e inspiradoras de contemplação e fraternidade. E a mensagem mais latente era apregoar que para sermos essencialmente felizes não necessitávamos de bens materiais, especialmente, de dinheiro. Todo aquele sonho era possível alcançar, independentemente da competição por “status” e dinheiro.

O grande pecado que tornou-me comunista-radical na concepção da tal colega, foi ter indagado o seguinte: é muita hipocrisia um cidadão nova-iorquino (o vídeo traz cenas dessa cidade), norte-americano de classe alta, usuário de todas as regalias possíveis, viajado, com acesso a uma educação decente, alheio às provações das necessidades mais básicas vir pregar aos quatro ventos que as demais pessoas devam conter-se ante uma ideologia setorial de que dinheiro não traz felicidade. Logo quem tanto pratica o protecionismo e ama o poder como poucos!

Aqueles que já têm recursos podem tê-los e aqueles que não os têm e que lutam por dias melhores devem abster-se porque dinheiro não é tudo, não é bom. A mensagem é implícita, mas é isso que tentar passar, de maneira sutil e florida. É uma atitude de puro e absurdo marketing, e se agrava por vir de um país globalizado e capitalista, um dos berços da democracia moderna, que prima por fazer valer as teorias do Contrato Social. Devemos nos ater que isso reflete apenas o pensamento de alguns, embora haja pessoas que recebam tais mensagens como verdade absoluta – foi o caso da tal colega.

Grosso modo, o lema da publicidade é vender um produto mesmo que o produto esteja envolto numa imagem bela e que ali esconda o perigo. Em contrapartida, não podemos apontar tais perigos ou corremos o risco de sermos rotulados de radicais, antiquados.

Tomemos como exemplo uma propaganda de margarina. Nelas são apresentadas famílias felizes; pais esbeltos e filhos branquinhos de olhos azuis, café da manhã ensolarado onde até o cachorro participa. E sobre a mesa o pote de margarina, que além de promover a felicidade da família, contribui para o entupimento das artérias e engorda aqueles que abusam da sua composição. Mas disso não podemos falar. Idem a propaganda. Apontar o lado podre de certas atitudes  é o mesmo que filiar-se ao radicalismo bárbaro, na concepção de alguns.

Dinheiro, por certo não nos torna mais ou menos felizes, todavia, a falta de recursos para o sustento é um mal que assola as sociedades e ceifa vidas. Um homem sem ambições é um ser fadado ao marasmo e as obsessões.

Abdicar do direito que cada um tem de buscar melhoras constantes é uma tolice, ademais não existe uma fórmula da felicidade. Isso quer dizer que, cada um deve buscar a felicidade da maneira que lhe convir, abstendo-se de alienar-se a filmes surreais que retratam um mundo perfeito, mas utópico demais para ser vivido.

Construir um ambiente sadio deve ser a base. A base individual de cada um, pois aquilo que torna feliz uma pessoa em particular, pode não perfazer o mesmo efeito a outra. Em suma, cada um deve gastar aquilo que tem nunca além dos limites necessários. E isso não é avareza ou radicalismo. É simplesmente segurança financeira, pois quem pouco poupa hoje, terá subsídios amanhã, se advir o inverno violento e duradouro. A natureza é assim, o problemas é que muitos seres, ditos humanos, se comportam como se não fizessem parte dela.

Da mesma forma que não é prudente esbanjar aquilo que não dispomos, não devemos dispor além do necessário só para demonstrar que não somos eternos.

De fato não somos eternos, mesmo assim nutrimos a esperança de que amanhã ainda estaremos aqui. Então, por que raios devemos torrar tudo hoje?

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