quinta-feira, 21 de março de 2013

Memórias do Velho saudosismo

Hoje sentei-me na cadeira-preguiçosa e comecei uma breve retrospectiva. As coisas passam tão apressadas por nós como passa a vida e nessa passagem vemos de tudo um pouco. Vivemos amores, desamores, paixões ferventes e carinhos ternos; iras, ódios, explosões de alegrias, tristezas necessárias, tristezas amargas e esperanças. Sim, esperança e otimismo podem ser as palavras de ordem.

Hoje... sento-me e toco meus cabelos grisalhos que um dia foram viçosos e negros. Ainda assim, hoje, sentado e pensativo, talvez cansado pela longa e gratificante jornada, sinto-me feliz. Vejo que o mundo e suas coisas continuam a passar, talvez com menos pressa que dantes, mas continuam. É bem verdade que passam arranjos de todos os naipes, mas, ainda imbuído em minha lucidez, atenho-me apenas ao belo.

Maracanãzinho em festa, para eleger uma miss Brasil na década de 60.
E por falar em beleza, lembro-me com perfeição quando parávamos para ver a seleção jogar, assistir aos clássicos trabalhos de Janete Clair, ou lotar o Maracanãzinho para ver aquelas belíssimas moças desfilar o esplendor da juventude. Percebo que hoje ainda se para, mas infelizmente, não para ver as belas moças a desfilar o esplendor da juventude.

Faz tempo que não se ver aqueles luxuosos e galantes eventos por terras continentais sul-americanas. Talvez até existam e seja eu que tornei-me retrógrado e não acompanhei o tempo em sua corrida desvairada.

Creio que hoje, meus caros, se dê mais valor às bizarrices dos jogos apelativos. Nos meus áureos anos, a boemia era mais refinada e mesmo sem mídia corrente, lotávamos grandes eventos. Nem sei o por quê disso ou talvez tenha uma noção – eles eram mais sadios.

O tempo não pode e nem deve parar. Seria muito egoísmo e infantilidade querer tal coisa, logo eu que há muito deixei a infância! Mas nem isso é capaz de convencer-me que a evolução deva ocorrer, mesmo deixando pontos importantes esquecidos... é isso o que de fato acontece.

Lutador possivelmente derrotado no ringue dos milhões$
Envolto em “modernidades” fico pasmo. Estou envelhecido, demente, jamais. Aqui do meu aconchego, recentemente observei pessoas jovens eufóricas por ver lutas na TV. O que teriam elas de tão especial para causar tamanha devoção? Instigado por tal curiosidade fui vê-las. Vi cenas um tanto terríveis. Ali havia pancadaria real, sangue e ossos quebrados. Era um ringue montado, uma rinha de gente, onde tudo valia em nome de alguns milhões. É... lá se fala a língua dos milhões. A cada sequência de socos e pontapés a plateia ia ou fingia ir ao delírio. Plateia formada por pessoas comuns, figurões e artistas populares e elitizados.

Após o torpor entendi o quão grande é o poder da mídia. Compreendi também que muitos “comuns” que ali estavam se vangloriavam por afirmar que agora eram a elite ou pelo menos encontravam-se juntos a ela; junto às pessoas de posses, pois aquele era O Programa (com “p” maiúsculo), o tsunami da vez, como foi um dia o Miss Brasil (no que se refere a quantidade do público admirador, não a qualidade).

Uma pena! Eles esqueceram que muitos artistas populares ali estavam, representando um contrato assinado com seus patrões; ali estavam, não por vontade própria, não por gostar de aberrações semelhantes, mas para representar mais um papel; sorrir, acenar, dar declarações à imprensa aberta de que era “bacana” gostar de ver homens trucidando-se uns aos outros por dinheiro. Isso certamente chama atenção e atrai o público comum. – Se o artista-popular vai, oba! Eu vou também.

Fiquei a indagar até aonde somos capazes de ir por um ideal, seja ele bom ou ruim. Alguém já disse por aí que o “homem é produto do meio”. Hoje essa máxima é levada tão ao pé da letra que desmenti-la seria negar a realidade dos fatos.

Vejo também que isso é apenas uma pequena farpa do que é o todo.

Cá, da minha cadeira-preguiçosa que cambaleia para frente e para trás, percebo que os “glamures” dos nossos eventos passados não estão extintos. Pelo contrário, o poder da fênix compõe cada um deles; o que falta é decifrar a fórmula do ressurgimento pela prática. Creio que no dia em que os artistas populares da casa, que em tese, detém o controle do evento-missológico-mor fizerem parte da plateia como espectadores assíduos (mesmo que por força de contrato de trabalho) – como ocorre com as lutas – as nossas belíssimas moças voltarão a brilhar em ambientes bem maiores do que o tão, tão distante Maracanãzinho. Aí, falar de miss no barzinho ou no trabalho (ou mesmo em casa) não será mais coisa de velho ou de “viado”.

Enquanto esse dia não chega, fico a esperar o tempo que agora se arrasta sobre mim... e se me dão licença, minha netinha está chegando para me fazer um cafuné. Fecharei os olhos até que a luz se extinga... e eu volte a pegar no sono.

Caso indagues quem sou eu... adianto-vos que talvez seja eu o resquício de um desejo velho, talvez já esquecido e que habita um canto qualquer da mente de cada um. É, talvez eu seja isso!...

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