terça-feira, 26 de março de 2013

Brasil de todas as caras

Texto originalmente escrito em 18/11/2012
Quando da eleição da miss Brasil/12 presenciou-se muitas manifestações: de contentamento, pela escolhida ostentar uma preparação condizente com aquilo que se deseja de uma miss-modelo e modelo-miss; e de indignação, pelo fato de, aos olhos de alguns, ser a escolhida o "mais do mesmo".

Miss Brasil 2006 - nesse ano a mais competente no palco ficou em 2º lugar (1ª à direita na foto) - Conveniência I
Pelas manifestações de apoio não há muito que se falar – são coerentes e a MUB/12* é, realmente, uma miss preparada; já no que se refere às manifestações nem tanto amistosas, há que se falar o que já se sabe e tantos insistem em forjar amnésia: a miss verdadeira não é aquela que tem rosto perfeito e sim aquela que é perfeita na integralidade, no todo.

Há aqueles que defendem a ideia de que as coordenações estaduais dão preferência ao mesmo “biotipo” (palavrinha tosca) – as morenas de pele branca e por consequência, a nacional. Segundo alguns mais “estudados” isso ocorre porque “esse” é o retrato do Brasil “lá fora” e o sucesso retumbante só virá pelos méritos de uma morena-de-pele-branca-ou-clara; e mais, os estrangeiros só gostam de brasileiros morenos-de-pele-branca e cabelos escuros, pois estes espécimes morenos são a cara-do-Brasil. Eu vos digo: quanta ideia falaciosa; quanta bobagem sem medida; quanto pensamento em movimento aceleradamente retardado.

Miss Brasil 2008 - nesse ano a mais competente no palco ficou em 3º lugar (3ª da esquerda pra direita na foto) - Conveniência II
Vencem as morenas-de-pele-clara-ou-branca, simplesmente por que, coincidentemente, elas se apresentam mais preparadas ou em maior número. Se numa competição, um grupo se sobrepõe a outro em determinado quesito, quantitativamente, é natural pensar que em termos proporcionais esse grupo tenha maior viabilidade de sucesso. Mas, isso quer dizer que é predominante? Jamais. Há vantagem-proporcional, jamais vantagem-de-domínio.

Até mesmo em fóruns estrangeiros a ideia do branco-de-pele-clara (ou seria moreno-de-pelo-branca?) é dominante. À bem da verdade, mormente para o miss Universo, o tal biotipo tem se repetido – mas, insisto na coincidência da melhor preparada. Claro, ressalvadas as exceções da conveniência macabra dos conchavos de bastidores. Não devemos ser tão ingênuos.

Michelly Bohnen, miss Santa Catarina 2011 - uma bela loura que não avançou no miss Universo Brasil 2011 por mostrar-se insegura no palco.
Em 2011, por exemplo, nenhuma loura foi ao top5 e não porque fossem loiras, mas porque se apresentaram visivelmente despreparadas. Em 2012, poderíamos sim ter loiras, negras, morenas e ruivas competindo, mas o corte-gigante não permitiu isso. Daí, ficamos com as tais-morenas-de-pele-clara.

Para defender teorias falaciosas há que se condenar também a Austrália, que parece mandar, a cada ano uma-ninfeta-loira-saída-da-mesma-linhagem-ou-forma – e o que os “sábios” dizem aqui? – “uau!!! Que lindas são as Australianas!!! (e haja exclamações!!!); Há que se condenar o México, que a cada ano também manda o mesmo perfil morena-de-pele-branca-saída-da-mesma-forma – e o que os “sábios” dizem aqui? – “uau!!! Que lindas as mexicanas; que latina!!! (e haja exclamações!!!);

Personalidades brasileiras refletem as caras do Brasil.
E o que dizer das orientais que têm os mesmos traços? Pobres orientais! São todas vítimas dos “sábios”. Não há japonesa loira ou negra, mesmo miscigenada ainda assim o traço japonês/oriental predomina. O que fazer aqui? Condená-los também? Seria hilário uma chinesa loira ou negra representando o China só para satisfazer o ego da pseudosabedoria.

A velha história do biotipo-brasileiro é de um equívoco sem tamanho. Não há um tipo específico do nosso povo. Isso por conta da tal diversidade étnica, queira “os sábios” ou não. Mulatas não têm a cara do Brasil; loiras não têm a cara do Brasil; negras não têm a cara do Brasil; amarelas não têm a cara do Brasil; índios não têm a cara do Brasil.

A cara do Brasil (se é que tem uma) é a cara de toda essa gente, e isso independe de cor. NÃO HÁ PADRÃO DE BELEZA BRASILEIRA. Há sim as belezas brasileiras as quais se ramificam por todas as origens possíveis.

Sermos agraciados com a grandiosidade de uma nação diversa deveria ser motivo de elogios incondicionais às belezas que temos. E o fato de não se ter uma representante loura ou negra não quer dizer que valorizamos um “biotipo” (novamente a famigerada palavrinha) em detrimento de outro; quer dizer, apenas, que não tivemos uma representante nesses termos com a preparação adequada para tal. Quando elas se mostraram capazes foram eleitas. O histórico do miss Brasil nos diz isso.

Deise Nunes, miss Brasil 86 e semifinalista no miss Universo foi (é) exemplo de competência e beleza.

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