O mundo-paralelo é cheio de nuances. No
Brasil, é um mundo tão pequenino e
mesmo assim ainda alimenta inúmeros seres de suas controvérsias, afinidades e incoerências. Devemos crer que todos “os
mundos” sejam carregados de tais nuances, mormente
se neles pairar o culto a subjetividade, nesse caso, a beleza.
Não é incomum depararmos com adeptos ou defensores de determinadas vertentes da beleza, que
acreditam piamente, que o ser belo, por
si só, já é o bastante para uma mulher
ser miss. Logo, as demais qualidades são secundárias ou pior, para os mais radicais, qualquer
qualidade depois da beleza é supérflua. É nesse
ponto que reina o perigo fruto da cegueira neutralizante, a qual faz com que nos tornemos reféns de tais
pensamentos equivocados, para dizer o mínimo. No mundo-da-beleza, o ser belo é sim a grande das grandes
virtudes, mas no mundo dos concursos de beleza esta, por si só, não nos
manterá em segurança por muito tempo.
Jamais
devemos esquecer que concurso é competição, ponto. Por isso é denominado assim “concurso”, “certame". E enganam-se aqueles que imaginam um passado diferente.
Concurso de beleza sempre foi competição
e sempre será e em sendo assim, nem sempre irá vencer aquela competidora
que arrebata os olhares por ser extremamente bela, se essa não for bela também
em outras virtudes.
No
Brasil ainda padecemos desse grande mal
de “achismo”. A maioria dos compatriotas não conseguem entender como é
possível, todos os anos, enviarmos candidatas belas e a resposta em eco
materializar a derrota em tom uníssono.
Uma das explicações a esse tipo de dúvida está exposta nas linhas que acabamos de
escrever, mas reforça-se: a virtude da
beleza, apenas, não garante vitória a uma aspirante a título internacional.
Uma
miss, na condição de personalidade
formadora de opinião que é, tem que saber levar adiante a mensagem das
causas de engajamento. Nessa seara, é
imprescindível que saiba transmitir tais pensamentos por meio da palavra falada;
é primordial que saiba cativar o interesse do ouvinte enquanto estiver em ação.
Em suma, a miss completa é aquela que
consegue por gestos, ações e palavras angariar para junto de si a atenção
incondicional da plateia ouvinte. Isso é ter carisma e este é inato à pessoa, mas o ato da comunicação se aperfeiçoa, se treina, se estuda, se
aprende. E para se alcançar tais façanhas, há uma jornada imensurável que
requer interesse, tempo, disciplina, paciência, comprometimento e muito estudo.
Ser uma miss de verdade requer muito mais
que isso. Já, ser miss no
Brasil, na concepção de muitos, exige apenas ter altura superior a 1,78m, um
rosto devidamente maquiado, para se apresentar “sempre maquiado”... e alguns outros apetrechos pendurados num
arranjo customizado – vulgo, vestido de madrinha de casamento. É mais ou
menos assim que uma miss deve ser segundo algumas mentes retrógradas – claro que na vida real a cena é bem mais
grotesca. E finalmente, soma-se a tudo isso, uma preparação zero.
Logo, voltamos à síndrome do avestruz, que
apontamos como um dos maiores vilões no mundo-miss brasileiro. Expliquemos
(de novo): todos sabemos da “falácia” de que o avestruz ao sentir-se
ameaçado enfia a cabeça pequenina num fosso e deixa o corpão à mostra sem importar
com o que possa lhe acontecer... - ora, pois, não está vendo, logo está à salvo.
Santa ingenuidade!
Pois
bem, voltemos aqui. As nossas pouco
preparadas aspirantes padecem dessa síndrome (às vezes). Percebemos donas
belíssimas e que passam uma energia inigualável (ou igualável às melhores) isso
até chegar ao ápice da competição
principal... qual seja – a temida entrevista
final – o calcanhar de aquiles das brasucas. É nesse momento que se
presencia uma corrida desenfreada em busca do famigerado
buraco-do-avestruz-para-enfiar-a-cabeça. Só que agora, não adianta mais – a derrota será o prêmio.
Aquele que tem dificuldade de se expressar e, pior
ainda, que não se comprometeu a estudar
e treinar, não logrará êxito, jamais, numa competência onde um dos prerrequisitos principais é o domínio,
ainda que razoável, da comunicação oral, expressiva e convincente.
Resta
claro que a atitude some; a aspirante retraí-se
e na ausência do buraco-do-avestruz (uma vez que no palco não terá um disponível)
tentam esconder o rosto contraindo o
pescoço ao máximo no intuito, em vão, de não serem percebidas. Na maioria da vezes é isso o que transmitem
- medo.
E
isso se aplica às candidatas em qualquer
concurso, seja ele municipal, estadual, nacional ou internacional. Quem não se prepara não ganha e os
exemplos reinam latentes, todos os anos.
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