segunda-feira, 7 de outubro de 2013

As misses (brasileiras) e suas (des)motivações

Motivação. O frenesi do dia a dia não nos permite perceber que a vida que levamos sempre é alavancada pela motivação, seja ela em sentido amplo, seja pontual. No trabalho e cotidianamente, se não temos motivação, tendemos a cair na monotonia, no ostracismo, nos braços da enfadonha repetição.

É natural trabalharmos motivados por salários melhores; por melhores condições de saúde e lazer; por educar filhos e conduzir uma família harmônica. Em maior ou menor escala todos estamos suscetíveis a experimentar os sabores da motivação, que atinge o sentido maior quando alcançamos e superamos nossas próprias metas. Logo, uma vez realizado o sonho de outrora, de imediato, temos motivação para galgar novos degraus nas escaladas das conquistas.

Isso funciona ou se aplica por todo o âmbito existencial de um ser...

No Miss Brasil (universo, mundo e similares), essa máxima não é passível de aferição ou simplesmente inexiste, uma vez que o calendário de eventos vige às avessas.

Devemos crer que haja uma pauta a ser debatida por essas organizações? A resposta é incondicionada. Toda empresa, ainda que sob o jugo da ingerência, deve ter um mínimo de direcionamento em prol de objetivos e metas. Novamente, nos segmentos miss’ológicos brasileiro isso é inauferível.

Vejamos: uma jovem entre 18 e 25 anos é elevada ao posto máximo da beleza. Ali se ver realizada uma meta pessoal, doravante um sonho de crescimento, maturação também profissional – é a situação mais sensata a ser concebida. No entanto, o que se percebe é um tresloucado movimento retrógrado por parte dos ditos “organizadores” que elegem suas pupilas, único e exclusivamente para participar do certame nacional e quando eleita no nacional, para os de âmbito internacional. A grande maioria não alcança a meta – dita maior – e caem no desânimo.

Não raras vezes tem-se a notícia de desentendimentos entre coordenadores e pupilas que levam, vez por outra, à destituição do “cargo”. Nessas horas indagamos: de quem é a culpa? Sem nenhum medo de errar podemos afirmar que a maior falta está na ingerência patrocinada pelas “organizações” que não planejam suas atividades e promovem certames como se tudo se resumisse ao evento final.

Uma pessoa que é contratada (ao menos deveria ser) por um ano, para desempenhar funções de representante de sua terra – seja município, estado ou nação – de repente percebe que aquele sonho de outrora se resume a uma noite. A motivação que lhes fora passada se resumiu a ser uma candidata e quando essa condição de candidata se esvai, todo o interesse escoa junto.

Tomemos o Miss Universo Brasil como parâmetro. À exceção de dois estados – Rio Grande do Sul e Amazonas – todos os demais entes da federação realizam os estaduais a no máximo dois meses do certame principal; o “reinado” é de 12 meses; a eleita, eufórica com a eleição, tem míseros dois meses para preparar-se para competir (outras, apenas dias); entre a eleição estadual e a data de retornar às atividades, caso perca na competição principal, passaram-se 02 (dois) meses, 03 (três) no máximo. Restam, na melhor das hipóteses, 07 (sete) meses de reinado a ser cumprido – fazendo o quê não se sabe.

Novamente, questiona-se: o que fará essa moça se o foco principal – que era o nacional – consumiu apenas alguns dias da vigência do cargo? Inexistindo um calendário decente que a ocupe e a faça exercer as atribuições em sua plenitude, o que fazer com os 210 dias restantes?

Uma das saídas é a “soberana” (muitas vezes imatura) vir em público falar mal da coordenação e vice-versa. Quando não se tem uma atividade a desempenhar (quando se é desocupado) e em ambiente que não se prima pelo trabalho, os conflitos tendem a ser constantes e inevitáveis.

Uma coordenação que se preza deveria funcionar como uma empresa que contrata, a cada ano, uma profissional capacitada a desempenhar certas atividades pré-definidas. Dentre essas atividades estaria a preparação e o foco para conquistar outros títulos. Todavia, queiramos ou não o principal anseio de uma miss é competir e nesse ponto reina a maior atrocidade do mundo-paralelo brasileiro.

Eleitas fossem, entre seis e oito meses antes da competição nacional, a probabilidade do cumprimento de um “reinado” sólido seria uma constante, porque atrelada às atividades de cunho social e "modístico", adicionaria a isso a motivação para competir e sonhar com o título nacional. Título este disputado, necessariamente, às vésperas de entregar o cargo à sucessora. Já com a missão do reinado em viés de terminar, não haveria margens para controvérsias e uma vez necessárias seriam encaradas com maturidade.

A realidade no Brasil é outra. Exatamente o contrário. As eleições estaduais, como frisamos, dão-se as vésperas do Miss Brasil e após este, as “derrotadas” voltam às origens sem perspectivas razoáveis, com a sensação de perda e o anseio do fim de um “reinado” que mal começou. Não haverá mais razão para comprometimento, pois a “derrota” veio prematuramente e levou consigo os resquícios de bem-estar. Nessa hora deveria entrar em ação as virtudes organizacionais da coordenação, que não o fará, visto que não patrocinou um planejamento mínimo.

Como resultado amargamos a insatisfação de um “batalhão” de moças que se veem obrigadas a cumprir um contrato com dedicação exclusiva, sem lhes serem dadas as condições mínimas para tal. Em cenários assim, os conflitos são latentes muitas vezes incontroláveis.

E a motivação? Essa ficara num passado recente com o encerramento da competição nacional. E as demais atividades? Quando existem poderão ser cumpridas, mas já sem aquela empolgação brindada no ápice da vitória tardia, fruto de um cronograma desordenado e descomposto.

Desse mal-do-calendário-do-descompromisso, padecem todos os certames brasileiros – desde os municipais (se existem) até os nacionais. Uma evidência foi a eleição da Miss Universo Brasil 2013, 18 (dezoito) dias antes de partir à concentração do Miss Universo.

Por último, podemos afirmar com propriedade: não dispomos de uma miss Brasil e sim de uma mera candidata a miss Universo – um equívoco inadjetivável.

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