sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Por que os certames de beleza brasileiros não decolam?

A maioria das poucas pessoas que acompanham os concursos de miss no Brasil o faz apenas sob a óptica da torcida discriminada pela candidata conterrânea ou por duas ou três que simpatiza ou conhece. Em momento algum é possível a constatação de um acompanhamento que vise a imparcialidade mínima ou apontamento aos malfeitos, a não ser quando não se é o beneficiado direto ou indiretamente. E como se não bastasse, os donos de concurso jamais vem a público explicar alguma contestação que, porventura, se materialize. Calam-se simplesmente, recolhidos à condição de inatingíveis.

Não é de toda incompreensível essa incapacidade aparente das pessoas em criticar ou apontar erros, se considerarmos que a visibilidade e o interesse por entender o que, de fato, acontece nos certames nacionais, tem relevância quase nula. Os erros, quando são trazidos à luz, não raras vezes o são para alavancar a imagem de uns em detrimento de outros, o que anula, tanto o ato em si, quanto a intenção.

Pela insignificância da matéria e pela pouca visibilidade, nenhum meio de comunicação ou profissional de mídia tem interesse em vasculhar esse mundo-paralelo*. Primeiro, porque não tem público interessado e os poucos que ainda vagueiam por aí demonstram verdadeira ojeriza à quem trata deste assunto e às suas ideias; segundo, pelo retorno financeiro completamente inexistente. Quem como nós, e outros raríssimos, dedicam uma parte do tempo para tal, o faz por amor a escrita e por respeito às jovens mulheres que entram nas disputas com expectativas em alavancar suas carreiras precoces. Não raras vezes saem cabisbaixas e decepcionadas.

As torcidas miss'ológicas não primam pela qualidade do evento, pela capacidade das misses participantes, pela lisura na condução dos donatários, se tudo isso for prejudicar a candidata favorita. Acreditamos que esse comportamento possa ser cultural, uma vez que o apreço pela pessoalidade exacerbada é constatado em todos os campos de pesquisa possíveis. Na política isso é perceptível a olho nu. Assim, o "instinto" determina ao inconsciente: enquanto a mim não for prejudicial o ato indecoroso e fraudulento, a sua prática poderá ser difundida.

Outro ponto latente no mundo-paralelo está condicionado ao politicamente correto. Aqui residem uma gama de "pensadores" que pregam a tolerância absoluta e indiscriminada em nome de uma tal "educação e respeito" que estes demonstram não saber o real significado. Educação não se resume a ir a escolar, cursar faculdade ou a aprender teorias, assim como respeito não traduz em mentir, florear ou dissimular o verdadeiro pensamento para parecer dócil e amistoso do ponto de vista do hipocritamente correto. Ao contrário, ter virtudes é expressar aquilo que se ver da maneira mais próxima daquilo que se percebe, mas não somente a isso. Portanto, o feio deve ser feio, o branco deve ser branco, o preto deve ser preto, atentando-se para as questões de urbanidade e não para parecer educado e respeitoso. Certamente, não é afirmando ser o feio bonito ou o negro "moreninho" que estaremos fazendo justiça àqueles que detém essas qualidades atribuídas pelo vocabulário que os próprios hipócritas criaram.

Lá noutro patamar, os mandatários dos feudos dos certames mantêm suas posturas de impávidos colossos, julgando a si mesmos os intocáveis. Não esboçam a menor reação quando são confrontados com os atos indecentes, reiteradamente praticados; quando muito, esboçam um leve sorriso, a senha ratificadora dos impropérios das coordenações estaduais.

Essa posição de "autoendeusamento" encontra guarida, exatamente, no desinteresse das pessoas que assistem aos conchavos, dão de ombros e pensam: ano que vem tem mais e talvez seja diferente. Ora, onde não há cobrança de lisura, não poderá haver explicação do pretenso "lesador", que diante da inércia do público tenderá a ocultar-se mais e mais em sua zona de conforto a propagar suas ações.

A possibilidade de termos concursos que não apenas pareçam, mas sejam, de fato, sérios não depende apenas da conduta dos donos. É necessário, ou melhor, imprescindível que haja uma aglutinação de atos e atitudes; aglutinação essa que resultaria na fusão entre a solidez de conduta dos organismos encabeçadores, a atuação efetiva das candidatas e seus apoiadores diretos que transcendesse os muros do politicamente correto e os interesse particulares altamente pessoalizados e, finalmente, o ativismo de um público crítico e antenado. Mas, isso talvez não seja possível, principalmente, por não haver interesse da cúpula em angariar um público com esse perfil, o que levaria a termo o sistema vigente.
* mundo dos concursos de beleza

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