sábado, 20 de fevereiro de 2016

Miss Brasil - um mundo-paralelo escondido

Falar sobre concursos de beleza no Brasil é o mesmo que recitar em monólogo, dentro de um quarto escuro. É um tema que causa tanto interesse ao público o quanto a educação e a saúde interessam aos políticos, passadas as eleições. É um tema tão inóspito que, se não gostássemos muito, nem nos daríamos ao esforço mínimo a falar sobre ele.

Essa ojeriza não se caracteriza apenas porque as pessoas não conhecem os concursos; ou porque concursos de beleza “é coisa de viado”. A aversão ou desinteresse ocorre por razões ligadas ao fato de, na concepção dos donos, ser um mundo que não comporta ou aceita qualquer pessoa. Qualquer pessoa, frise-se, que não faça parte do grupo marcado para ele integrar.

É impressionante! Quando pesquisamos, mesmo superficialmente, percebemos com clareza que, ao longo das décadas, os grupos agem de maneira bem semelhante. A cada ciclo um grupo se eleva, domina os certames e promovem eventos para si mesmos. É como se adquirissem a franquia para realizar um desejo ou desejos pessoais. E assim o fazem, anos a fio.

Caminhamos para o final de fevereiro e 90% dos municípios não escolheram representantes. Se nos famigerados municipais não há candidatas, significa dizer que os estaduais estão nos braços de Morfeu, ou seja, adormecidos. Isso no segmento Universo, pois no Mundo, os organizadores já há meses vem enfaixando moças, representantes de ruas, becos, lagoas e córregos, especialmente os do Rio Grande do Sul.

Muitos juram que as candidatas dos EUA figuram no topo dos certames porque tem o inglês como língua oficial e a franquia Miss Universo é nova-iorquina. Mas devemos pensar um pouco: desde julho de 2015 que as misses estaduais, para o MUUSA 2016*, estão sendo eleitas. Isso faz muita diferença. O miss Estados Unidos, normalmente é realizado em julho, pouco antes do Miss Universo, mas os Estados há muitos meses já preparavam as suas candidatas.

No Brasil temos o português como idioma; não sediamos nenhum certame de ponta, e ainda, nossas organizações são, historicamente, relapsas na elaboração do calendário anual de eventos. E pasmem, queremos vencer todos os anos! Ora, mesmo aqueles que trabalham com seriedade não conseguem tal façanha, o que dizer dos desprovidos de empenho.

Hoje, temos uma miss Brasil 2015, recém-eleita, que serve apenas como peça decorativa. Foi ao Miss Universo poucos dias após ser “eleita” e, como era de se esperar, fez figuração no evento. Hoje temos o Miss (Universo) Brasil sob nova direção; direção essa que em nada contribuiu para acreditarmos que nos anos vindouros será diferente.

Não haverá acerto mínimo, qualquer que seja a empresa ou grupo a dominar as franquias no Brasil se a premissa for em manter a desordem reinante nos Estados e suas coordenações temerárias. Nada será diferente, se não houver ousadia e indicação direta de uma candidata para ajustar o calendário à realização de eventos tempestivos.

Atrelar o Miss Brasil (evento) à realização do Miss Universo ou Miss Mundo é o erro mais escrachadamente amador que se pode aferir. E essa lacuna de tempo somente poderá ser compensada quando os donatários elegerem duas candidatas num mesmo ano – uma indicada para representar o país no ano corrente, e a outra, eleita para atuar como miss Brasil e preparar-se para o respectivo certame no ano seguinte. Somente a partir daí será possível sonhar com um trabalho sério.

Diferente disso teremos os paliativos rotineiros e misses eleitas para passar vergonha (e nos envergonhar) nos certames internacionais. Mesmo assim é possível verificarmos duas funções primordiais em nossas misses: 1) fazer figuração nos certames internacionais; 2) passar a faixa (título) à sucessora no ano seguinte.

Ainda tem as aulas intensivas para aprender a acenar o “tchauzinho” mas esse é um tema que, de tão relevante, merece uma resenha própria; idem o “dei o meu melhor”.

E haja competência!...
* Miss (Universo) USA

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