sábado, 4 de janeiro de 2014

Quem determina o caminho?...



Um dia desses alguém me disse com grande convicção: - “acredito que o nosso destino já vem traçado desde antes de nascermos”... Confesso que fiquei,por um tempo, pensativo. O que levaria alguém a crer numa tese dessas e a defendê-la com tamanha propriedade?

Logo percebi que a palavra-chave era isso: crença. Acreditamos em muitas coisas por força do credo religioso, das raízes culturais, da educação familiar (ou da falta dela) e de muitos outros fatores que permeiam e nos envolvem nessa passagem que denominamos vida.

Aqui, nem preciso afirmar que não coaduno com a tese do destino-traçado. Mas, pensar assim, somente reforça a ideia da preservação das nossas diferenças (tão necessárias), que não devem ser combatidas e sim respeitadas. Nem devem ser seguidas, se assim não as queremos, todavia, tal atitude jamais deverá anular a prerrogativa de contestar, debater, discordar ou defender sob a égide da sanidade.

Sinceramente, não consigo absorver a ideia de que o Escritor-Mor do livro-dos-destinos disponha de seu precioso tempo para escrever ou prever que “tal” dia, “tal” hora, sob sol, neve ou chuva, você ou eu havemos de chutar uma pedra, que resultará na perda de uma unha, quiçá de um dedo. É exagero? Creio que não. Se tudo está escrito, até aquela unha que você roeu ou roi, não será mera coincidência – isso também estará escrito, mesmo nas entrelinhas ou notas minúsculas de rodapé.

Por outro lado, há inúmeros fundamentos. A história nos faz esbarrar em evidências singulares e irrefutáveis. Nos anos-negros de domínio da Igreja, por exemplo, as sociedades católicas foram condicionadas à submissão à Deus (fosse Ele quem fosse – e aqui não estamos a por-em-xeque a existência de Deus e sim a prática terrena dos negócios que envolvem a fé alheia), e que para manter o controle das “ovelhas” pregavam-se o desapego dos bens materiais em favor da Instituição religiosa sob pena de excomunhão e danação eterna da alma – não muito diferente dos dias atuais; reis faziam os súditos crer piamente (e ainda fazem), que nasceram para ser súditos pois aquele era o destinos – uma vez servo, sempre servo. Nada além de um artifício para manter a dominância das famílias nobres, ditas de “sangue-azul”, tanto no domínio como no trono – que é a mesmíssima coisa.

Em nossos dias, ainda é latente a preponderância do poder das crenças (seja ela qual for) sob a vida das pessoas. Os mais religiosos, temem tudo e todos por medo de “provações”, ou seja, medo de serem punidos por deixar de realizar algo que a “crença” julga necessário; outros se entregam à miséria por achar que ela é o que melhor representa o ser humano em seu aspecto natural, despido de qualquer opulência; outros, ainda contentam-se com o básico porque acreditam que tornar-se melhores ou mais abastados não condiz ao tal-destino, ou se não consegue melhoria, é sensato desistir, é o destino...

E o livre arbítrio? Em tese, somos livres. O que faremos com ele se não temos outra opção senão esperar o destino se cumprir? 

Não condeno quem se deixa navegar pelas ondas do destino; nem tampouco desdenho quem o tem como filosofia de existência. Ainda assim, deixo clarividente: não conte que eu espere ser atropelado por uma diligência nos parques da Disney, só porque está no destino que eu devo sucumbir sob a roda de um veículo do Velho-Oeste. 

E se eu nunca for à Disney? Das duas uma: ou viverei para sempre ou o Escritor-Mor do livro-dos-destinos terá de reescrevê-lo.

Temos inúmeras crenças e isso é válido; mas quem acredita na tese oposta não estará totalmente errado, nem tampouco genuinamente correto; tão somente estará emitindo opiniões distintas que, conduzidas com responsabilidade serena, formará o emaranhado conflituoso no qual residimos. A recíproca, para ambos os casos, precisa ser verdadeira.

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