domingo, 3 de novembro de 2013

A miscigenação ainda clama por respeito

Gostaria de entender o que leva uma pessoa a menosprezar seu semelhante em razão de meras e imaginárias linhas geográficas ou fator genético. Há pessoas que, por atos e fatos que praticam, devam ser penalizadas, isso indistintamente, a depender da gravidade, todavia, a gratuidade do menosprezo, da condenação gratuita às pessoas de forma generalizada, nos faz reviver os porões escuros da história perversa, da busca pelo perfeito, na concepção de algumas doentias mentes.

Todos os dias é possível ouvir dizer, ou mesmo presenciar fatos que corroboram a infame prática da segregação, da discriminação gratuita e enrustida. Os tentáculos dessa, nunca param de expandir-se apesar das muitas formas de cerceamento e repulsa a tais atitudes.

Muitos, levianamente, valem-se das liberdades que dispõem, advindas das benesses democráticas, para disseminar pensamentos inadequados e em muitos casos, claramente perniciosos, carregados de pejo e insatisfação pelas “misturas” que nada mais são, que a ação da própria natureza. Outros, ingenuamente, adotam posturas equivocadas, talvez por serem de fácil convencimento fruto da ignorância do real teor das mazelas oriundas de práticas tão desumanas.

Embasados em um pensamento torto, acreditam que a ciranda natural errou ao permitir a “proliferação” de seres geneticamente miscigenados. E se não alcançam a Natureza para reprimi-la pelo suposto erro, atacam, covardemente, o produto dessa miscigenação, desse “erro”, o qual julgam inferior e não merece dividir o mesmo espaço, ainda que geográfico.

Até a consolidação da Democracia nas sociedades ocidentais, muitos padeceram sob o jugo da intolerância; muitos deram a própria vida em prol de um futuro mais igualitário, mais justo. Hoje, podemos afirmar que desfrutamos de um ar mais respirável graças aos sacrifícios dos heróis do passado, no entanto, as raízes do “sistema de partilha de raças” jamais deixara de alimentar-se e, por óbvio, de crescer.

Ironicamente, hoje, os repressores miscigenos tendem a sentir uma “repressão branda” sobre suas teses espúrias, isto porque, a ampla maioria da sociedade livre não coaduna com o pensamento racista, ou xenofóbico. Logo, quem compactua com as práticas de uma sociedade livre, jamais reprimiria os segregacionistas em suas práticas infames com a truculência, tão somente com a força advinda das leis, criadas para todos, sem distinção.


Há mais perigos em se viver em sociedade do que aqueles que o senso comum tende a imaginar. Ficamos tão estarrecidos diante da violência física e contra a vida, que esquecemos dos males da intolerância, que aproveitam esse frenesi e tentam invadir as sociedades pela porta dos fundos. Hoje, pela porta dos fundos, mas isso não impede que cheguem a todos os cômodos e prepare o caminho para o regresso triunfante pela entrada principal.

Regredir é historicamente impensado, mas não impossível, caso a sociedade moderna não persevere. Devemos, sim, aperfeiçoar as conquistas do passado e nos prostrarmos em constante estado de alerta, vigilantes diuturnamente, à manter intactos os valores que nos torna mais humanos e mais compreensivos.

Os pensamentos distintos geram teses distintas que são debatidas, contestadas, aproveitadas, total ou parcialmente, mas nunca reprimidas. Isso é válido, também, para os atos que praticamos. É válido para mostrar que não somos os donos da verdade absoluta (há muitos que nem sequer acreditam em verdade-absoluta); que ser belo ou não, não nos torna mais ou menos merecedores de respeito; que estarmos ou sermos do norte ou do sul, não predispõe nossa ética, capacidade ou consolidação de valores.

Um ignorante e iletrado alimentar uma conduta errônea ainda é mais aceitável do que aquele que julga-se intelectual; aquele, coitado, recebe as informações e, por ser ignorante, não tem a capacidade de discernir o que é próprio ou impróprio a defender; já este, em tese, consciente do seu papel e entendedor do mundo como ele é busca difundir suas visões distorcidas e perversas, e não raras vezes, cai nas armadilhas que “ele” próprio deixara postas pelo caminho.

Nestes termos, quem é o sábio e quem é o ignorante?

A “repressão” democrática jamais será a mesma repressão utilizada pelos intolerantes. Até nisso eles têm benefícios, pois aquele que não discrimina vislumbra  a todos sob um mesmo ângulo – o de ser humano que somos, independente de fator genético ou de linhas geográficas imaginárias.

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