Paradigmas. O mundo está
repleto deles. Há paradigma para tudo: vestir “shortão” folgado, virar a aba do
boné para trás, ouvir rap e andar de
skate... é maconheiro; usar terno e
gravata ou se é “doutor”, pastor
evangélico ou político; rosa é cor “de
mulher” e azul é “de homem”;
miss tem que ser gordinha e com curvas, e modelo magérrima; concurso de miss é
“coisa de viado”; MMA/UFC e
futebol, “coisa de homem-macho”.
Na verdade, “paradigma” vem a
ser nada além de um termo sofisticado
utilizado para definir preconceito. A linha que separa ambos é tão tênue
que não raras vezes se misturam. Casos
mais cotidianos – preconceito; situações
mais consolidadas – paradigma.
Quem não conhece a experiência
com os macaquinhos que eram "duchados" todas as vezes que um deles subia uma tal escada para pegar uma
banana, e que por isso os demais passaram
a bater naquele que insistia no feito? A real: eles associaram o banho involuntário ao fato de um deles roubar a
banana. Tempo depois, eles não foram mais "duchados", nem o teimoso foi às
bananas, mas continuou a apanhar,
pois os companheiros haviam se
acostumado a batê-lo e não viam motivo para suspender as surras.
Isso seria paradigma. Cujas ações provêm
da letargia cega, do apreço em demasia pelo velho-modelo – alienação voluntária; ou ainda fruto da
ignorância, do desconhecimento do
mínimo necessário, onde a rotina prevalece ainda que mudanças rondem em
ebulição – alienação involuntária.
No mundo-paralelo percebemos com clareza que algumas mentes buscam a manutenção do “tradicional’, em sentido
extremo. – Miss não é modelo, dizem.
Desde os primórdios foi assim... porque hoje haveria de ser diferente? Não precisa ser. Há quase 50 anos não ganhamos um título
internacional... mas isso é porque não
compramos os títulos – e se contradizem – e ainda temos as mulheres mais
lindas do mundo.
E por aí trilha um mundo de falácias.
Estariam
acostumados? Tal como
os macaquinhos, agem estes sob o jugo da
mesmice, do repetitivo, para não destoar daquilo que fora feito ontem.
Ocorre que o tempo evoluiu,
aliás, evolui. Não é porque a maioria
usa o volante do carro do lado esquerdo que a vontade daqueles que querem
ter um do lado direito será anulada, ou menos correta. Não é menos verdade dizer que: não é por que os concursos do
passado elegeram suas representantes curvilíneas ao excesso, que as de hoje devam engordar para cumprir os
preceitos de um passado distante.
Miss Mundo Brasil 2012 |
Quem deu-se (ou dar-se) ao trabalho de ver os arquivos desses certames há de perceber que as mudanças têm sido
substanciais. Tanto no formato (exceto MW) quanto no perfil das candidatas.
E as mais latentes de todas transparecem no miss Universo, que ainda é o mais conceituado.
O saudosismo é positivo. Para
mantê-lo vivo, têm-se os registros, quer seja em fotografias, quer seja em
vídeos em branco e preto com listras cortando a tela. Isso é gostoso de ver; a alguns, de relembrar. Daí, querermos conservar o pretérito nas ações
do presente e futuro é de um descompasso e egoísmo não passíveis de
mensuração.
Quando almejamos algo pelas vias tórridas
do radicalismo, o flerte com a intolerância diante do pensamento oposto é
latente; pulsa como um órgão terminal ensandecido
pelo delírio do objetivo próprio e não aceita a proposta de cura por
considerá-la, erroneamente, veneno.
O equilíbrio e a sobriedade são sempre bem-vindas. Não menos importante é a constatação de modelos virem exatamente como
elas são, contribuir para uma “revolução”
definitiva no mundo-paralelo. Neste caso, temos vários fatores que justificam a
evolução interna dos certames com a adesão das modelos:
Primeiro, porque o conceito de
miss há muito já ultrapassou o “tchauzinho” e a “paz mundial”. Depois a maioria dos orientadores que já levantaram
da hibernação e lavaram o rosto, estão
buscando suas pupilas em agências de modelos;
O miss Universo, não obstante as
causas sociais que apoia, tem escolhido reiteradamente moças com potencial
para encarar passarela de moda; até o miss
World, retrógrado como é a realeza britânica, tem primado por desfiles voltados ao desempenho-modelar;
- uma miss não tem que defender apenas os interesses difusos das comunidades, e sim ser produtiva em outras frentes, como angariar patrocínio
pela imagem, estar apta a cumprir os contratos firmados pelo seu empregador,
inclusive desfiles como modelo de passarela; deve (ou deveria) encarar o
trabalho como qualquer outro. Devemos
crer que as organizações invistam dinheiro; patrocinador investe dinheiro –
e não se trata de uma entidade filantrópica ou religiosa. Onde há despesas tem que haver receitas, em contrapartida. Do
contrário, o fracasso é o alvo mais atraente;
- ao contrário do que muitos imaginam, os certames estão cada vez mais embrenhados a ganhos com parcerias
e contratos publicitários. É um negócio...
e negócio que não dá lucro é negócio falido. Ou na melhor das hipóteses, “eikeistas”.
Miss Universo Brasil 2012 |
- quão gratificante e expositivo foi ver a miss Brasil 2012 figurar no São Paulo Fashion Week 2012!
Certamente uma moça acima do peso ideal, jamais alcançaria semelhante patamar.
Não por está acima do peso, mas por não
atender ao novo paradigma que recai sobre uma miss.
Mudar paradigmas talvez não seja o caso, até porque são
paradigmas. O menos impactante seria nos
educarmos para uma adequação dos velhos valores com os valores modernos.
São “mundos” distintos mais nem por isso devem ser dicotômicos ou inimigos do
bom senso e do justo.
O que buscamos é algo que
nos traga frutos. E estes para serem
sadios não precisam vir regados a vitórias consecutivas; basta ser coerentes,
adequados e certeiros, como foram nossas misses Universo Brasil 2012 e
Brasil World 2012.
Pode-se até não concordar; o que não é plausível é ignorar ou não admitir que os tempos são outros. E quem não os acompanha, virará pó (em vida), em bom português, cairá no vão abissal do esquecimento.
A grande diferença entre uma miss e uma modelo tradicional é que a miss, além de ser modelo, precisa
ser verdadeiramente culta.
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