sexta-feira, 28 de junho de 2013

Gigante pela própria natureza... despertou.

Historicamente, grandes manifestações geraram grandes e importantíssimas mudanças. Mudanças essas carregadas de benefícios sociais. As vezes mais latentes, em outras ocasiões mais tímidos; e não raras vezes regados à dor e caos. Não é o caso do Brasil. Ainda há muitos desmandos, porém, a fase de repressão em nossas terras fora sepultada há muito tempo e não há margem para aquela famigerada ação retornar à luz.

A ira social vigente ainda colide com muitas mentes céticas que, mesmo diante de tamanha mobilização, acreditam em “fogo-de-palha”, ou seja, trata-se de uma onda vertiginosa que logo, logo passará. Claro que passará. Toda onda vem e passa. Seria terrível uma vida em colisões permanentes.

Mesmo aqueles que desaprovam a “revolta” que assolou e assola o país, hão de convir que alguns pontos cruciais já são passíveis de percepção a olho nu: primeiro, “nossos representantes” eleitos viram-se obrigados a deixar seus abastados casulos; acostumados a julgar seu povo inanido, visto apenas sob o aspecto de curral-eleitoral, apareceram perplexos diante de câmeras de TV, ainda sem saberem o que falar. Logo eles, tão acostumados a arrumar desculpas para tudo!

Chefes do Poder Executivo, das principais cidades do país apressaram-se em atender às demandas urgentes da população, ainda a contragosto; pasme-se, o Congresso desengavetou projetos de lei, alguns adormecidos há mais de uma década – cite-se aquele que torna em crime hediondo a prática de corrupção; foi aprovado sem nenhum esforço – uma navalhada na carne dos próprios corruptos que, acuados, não puderam mais protelar o improtelável. Nessa leva ganhamos alguns pontos percentuais a mais nas verbas oriundas dos royalties do pré-sal, para a educação e a saúde. Para a educação na casa dos 75%.

O que dizer da PEC 37 – aquela famigerada emenda à Constituição Federal, arquitetada nos porões do submundo perverso de alguns políticos pervertidos, que visava podar de vez o poder de investigação do Ministério Público? Há quem sustenta que estava tudo arquitetado, nos mínimos detalhes, para ser aprovada, o que seria um golpe à democracia.

Depois da insurgência do povo, até então alienado, a tal emenda fora rejeitada quase que por unanimidade.

E ainda há quem diga que trata-se de “fogo-de-palha"...

Outro poder a manifestar-se foi o Judiciário. Há dois anos os juízes do Supremo Tribunal Federal julgaram e condenaram a mais de 13 anos de prisão, um deputado corrupto, quadrilheiro, altamente lesivo e pernicioso ao patrimônio público, que mesmo condenado, cumpria mandato eletivo. Condenaram, todavia, jamais fora expedido mandado de prisão. Não até o povo gritar nas ruas que o desmando passara do limite. Coincidentemente, pela primeira vez após a redemocratização do Brasil, um deputado corrupto fora julgado, condenado e preso, fato que somente ocorreu em 28/06/2013 – ainda no auge dos protestos. Os mensaleiros não perdem por esperar...

E ainda há quem diga que trata-se de “fogo-de-palha"...

A chefe do Executivo Federal prontificou-se, não de imediato, a propor maneiras de se buscar atender às demandas das ruas. Nem tanto por de fato querer, mas por sentir o chão estremecer sob os pés a pouco mais de um ano das eleições. Algumas propostas coerentes, outras estapafúrdias, como aquela que pretendia uma constituinte específica para tratar da reforma política. Atitudes populistas, altamente perniciosas à sociedade livre e à liberdade social.

Nesse aspecto, é perceptível também o sentimento órfão que assola a todos. Há muito tempo uma reforma política é necessária, bem como a tributária e a previdenciária. Os partidos políticos perderam de vez qualquer resquício de respeito e representatividade. Não se acredita em partidos, não se confia em políticos. Durante o auge dos protestos, alguns movimentos oportunistas foram constatados, mas rechaçados sumariamente pelas pessoas de bem, cansadas de assistir ao eterno ato de faz-de-conta.

Alguns Congressistas brasileiros...
Outro ponto importante questionado, agora no campo financeiro, seria o “rombo” orçamentário para custear todos os subsídios para atender o mínimo necessário. De onde tirar dinheiro? A resposta surge em uma simplicidade que impressiona: do mesmo lugar que fora tirado para custear os gastos bilionários com os estádios da Copa. Santa FIFA! Conseguiu fazer brotar recursos do orçamento de uma nação cujos governantes nunca tem o mínimo para as necessidades básicas da população. Quanta contradição... Santa FIFA!

Muitos dizem: para a Copa do Mundo (e atender aos padrões FIFA de exigência), tratou-se de um orçamento específico ou extraordinário. Aí, cá do nosso leigo e modesto aconchego havemos de indagar por que não alavancar tais despesas para equipar hospitais, investir em educação básica e secundária? Por que não podemos ter um orçamento diferenciado nos padrões FIFA, para a segurança Pública, a mobilidade urbana, a revitalização dos portos, a conclusão das ferrovias que há décadas engatinham?

Ainda somos canarinhos presos...
Se é verdade que a Copa do Mundo precisa de excelentes estádios, não é menos verdade que os brasileiros necessitam de segurança, tratamento de saúde decente, educação, saneamento e respeito. E dinheiro para isso, temos, pois arcamos com uma das maiores cargas de impostos, tributos, taxas e contribuições existentes no mundo; se considerarmos o retorno – é a maior.

Independente da ideia do suposto fogo-em-palha-seca que ainda incendeia a mente incrédula de muitos, a realidade nos faz crer que as mudanças podem ser sólidas e consistentes. Ainda temos que percorrer longos caminhos. Perseverar, vigiar com responsabilidade. Provar a cada dia que estamos despertos e dispostos a exigir o que nos é devido por direito.

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