Falar sobre
concursos de beleza no Brasil é o mesmo que recitar em monólogo, dentro de
um quarto escuro. É um tema que causa
tanto interesse ao público o quanto a educação e a saúde interessam aos
políticos, passadas as eleições. É um tema tão inóspito que, se não gostássemos muito, nem nos daríamos ao
esforço mínimo a falar sobre ele.
Essa ojeriza
não se caracteriza apenas porque as pessoas não conhecem os concursos; ou
porque concursos de beleza “é coisa de viado”. A aversão ou desinteresse ocorre
por razões ligadas ao fato de, na concepção dos donos, ser um mundo que não comporta ou aceita qualquer pessoa. Qualquer
pessoa, frise-se, que não faça parte do grupo marcado para ele integrar.
É
impressionante! Quando pesquisamos, mesmo superficialmente, percebemos com
clareza que, ao longo das décadas, os grupos agem de maneira bem semelhante. A cada ciclo um grupo se eleva, domina os
certames e promovem eventos para si mesmos. É como se adquirissem a franquia
para realizar um desejo ou desejos pessoais. E assim o fazem, anos a fio.
Caminhamos
para o final de fevereiro e 90% dos municípios não escolheram
representantes. Se nos famigerados municipais não há candidatas, significa dizer que os estaduais estão nos
braços de Morfeu, ou seja, adormecidos. Isso no segmento Universo, pois no Mundo, os organizadores já há meses vem enfaixando moças, representantes de ruas, becos, lagoas e córregos, especialmente os do Rio Grande do Sul.
Muitos juram
que as candidatas dos EUA figuram no topo dos certames porque tem o inglês como
língua oficial e a franquia Miss Universo é nova-iorquina. Mas devemos pensar
um pouco: desde julho de 2015 que as
misses estaduais, para o MUUSA 2016*, estão sendo eleitas. Isso faz muita
diferença. O miss Estados Unidos,
normalmente é realizado em julho, pouco antes do Miss Universo, mas os
Estados há muitos meses já preparavam as suas candidatas.
No Brasil
temos o português como idioma; não sediamos nenhum certame de ponta, e
ainda, nossas organizações são, historicamente, relapsas na elaboração do calendário anual de eventos. E pasmem,
queremos vencer todos os anos! Ora, mesmo aqueles que trabalham com seriedade
não conseguem tal façanha, o que dizer
dos desprovidos de empenho.
Hoje, temos
uma miss Brasil 2015, recém-eleita, que serve apenas como peça decorativa.
Foi ao Miss Universo poucos dias após ser “eleita” e, como era de se esperar,
fez figuração no evento. Hoje temos o
Miss (Universo) Brasil sob nova direção; direção essa que em nada contribuiu
para acreditarmos que nos anos vindouros será diferente.
Não haverá
acerto mínimo, qualquer que seja a empresa ou grupo a dominar as franquias
no Brasil se a premissa for em manter a desordem reinante nos Estados e suas
coordenações temerárias. Nada será diferente, se não houver ousadia e indicação direta de uma candidata para ajustar
o calendário à realização de eventos tempestivos.
Atrelar o
Miss Brasil (evento) à realização do Miss Universo ou Miss Mundo é o erro
mais escrachadamente amador que se pode aferir. E essa lacuna de tempo somente
poderá ser compensada quando os
donatários elegerem duas candidatas num mesmo ano – uma indicada para
representar o país no ano corrente, e a outra, eleita para atuar como miss
Brasil e preparar-se para o respectivo certame no ano seguinte. Somente a partir daí será possível sonhar
com um trabalho sério.
Diferente
disso teremos os paliativos rotineiros e misses eleitas para passar
vergonha (e nos envergonhar) nos certames internacionais. Mesmo assim é possível verificarmos duas funções primordiais em
nossas misses: 1) fazer figuração
nos certames internacionais; 2)
passar a faixa (título) à sucessora no ano seguinte.
Ainda tem as
aulas intensivas para aprender a acenar o “tchauzinho” mas esse é um tema
que, de tão relevante, merece uma resenha própria; idem o “dei o meu melhor”.
E haja
competência!...
* Miss (Universo) USA
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