Era bem cedo quando ela desceu do ônibus. O ponto ficava exatamente em frente ao
seu destino, mas, no lado oposto daquela
movimentada avenida. O semáforo não demorou muito a ficar vermelho e
liberar a faixa de pedestre na medida em que os carros, um a um, iam parando. Ao som característico, indicativo de faixa
livre, ela misturou-se à multidão de trabalhadores a transpor a larga e
movimentada rua.
Na fachada do prédio de três andares repousava em letras
garrafais-ornamentadas, as iniciais – CTM.
Um leve cumprimento ao recepcionista e ela subiu, decisivamente, as escadas.
- Bom dia, respondeu ela contraindo a face num sorriso amavelmente iluminado.
- Chegou
cedo hoje, observou a senhora sob nuances interrogativas.
-
Verdade, o dia será minúsculo. Preciso adiantar o treino, aproveitar o maior tempo possível.
A mulher sorriu e continuou a abrir as
persianas das janelas envidraçadas. A luz natural iluminou o salão espelhado. Ao se voltar, interpelou.
- Acha mesmo que vale a pena tanto esforço?
- Acha mesmo que vale a pena tanto esforço?
- Não, eu não acho. Rebateu sem olhar a
interlocutora, enquanto vislumbrava a própria imagem nos espelhos que tomavam
toda a parede defronte. Diante da
expressão incrédula da jovem senhora ao lado, ela sorriu.
- Eu acredito. Tenho certeza que todo
esforço é um aprendizado. Achar é a
primeira lição a ser desconsiderada. O
achismo é um horror.
A mulher sorriu, balançando negativamente a cabeça. – Vendo-a
falar assim fica difícil não acreditar também. Conte comigo, sempre.
- Eu sei que posso contar. Vamos começar então?
Uma melodia ritmada ressoou e ela passou a andar, pra lá e pra cá, com paradas regulares e gestos estratégicos, flertando consigo mesma; repetindo à exaustão.
Horas mais tarde o interior dos prédios, aquele inclusive, já fervilhava.
- Consegue mesmo ler esse tipo de livro? Indagou a senhora d’antes, enquanto ela já se preparava para deixar o treino, tempo depois.
- Eu sei que posso contar. Vamos começar então?
Uma melodia ritmada ressoou e ela passou a andar, pra lá e pra cá, com paradas regulares e gestos estratégicos, flertando consigo mesma; repetindo à exaustão.
Horas mais tarde o interior dos prédios, aquele inclusive, já fervilhava.
- Consegue mesmo ler esse tipo de livro? Indagou a senhora d’antes, enquanto ela já se preparava para deixar o treino, tempo depois.
- Oh,
sim! Respondeu.
- Não é todo dia que vemos uma menina tão jovem
interessada nesse tipo de literatura. Nem as escolas ensinam mais isso. Muito
menos incentivam tais leituras.
- Isso é
verdade sim. Não leio pela escola, leio
por mim mesma.
A mulher
recuou instintivamente.
- Não,
não, por favor! Não fique constrangida.
Leio de fato por mim mesma, acredite. Disse ela com explícita cordialidade. As escolas ignoram a literatura, como você
mesma disse. Sendo assim busco ler clássicos por conta própria. E, principalmente, por incentivo dos meus pais.
Não me constrangeu, querida, remendou a mulher, fico feliz por buscar caminhos que vão levá-la ao sucesso, sendo indiferente, o âmbito dessa vitória. Quem tem conhecimento jamais será um perdedor, essa é a grande verdade.
Não me constrangeu, querida, remendou a mulher, fico feliz por buscar caminhos que vão levá-la ao sucesso, sendo indiferente, o âmbito dessa vitória. Quem tem conhecimento jamais será um perdedor, essa é a grande verdade.
-
Obrigada, minha amiga! Bom, preciso ir, a tarde é curta e as 17h20, em ponto,
tenho que marcar presença no largo da Praça Central.
- Ainda a observar o homem-dos-pombos?
- Ele é
muito simpático.
- Falou com ele, exasperou-se a mulher.
- Sim,
tomei coragem e o abordei.
- Oh,
meu Deus! Minha querida, isso é muito
perigoso. Não o conhece.
- Ora,
que mal há? O que poderia acontecer em meio a uma praça repleta de gente e pombo?
Já até confidenciei à minha mãe. Trata-se apenas de um novo amigo do acaso… e
meu, agora.
Ela sorriu maliciosamente, agarrou os pertences e bateu em retirada. A cidade, como sempre, estava frenética e lá se foi ela a contabilizar mais um ser naquele emaranhado de artérias pulsantes e concreto armado e escaldante.
Tratava-se de O Banquete, o livro lido àquela ocasião pela jovem visionária. De Platão.
Ela sorriu maliciosamente, agarrou os pertences e bateu em retirada. A cidade, como sempre, estava frenética e lá se foi ela a contabilizar mais um ser naquele emaranhado de artérias pulsantes e concreto armado e escaldante.
Tratava-se de O Banquete, o livro lido àquela ocasião pela jovem visionária. De Platão.
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